quarta-feira, 6 de abril de 2011

Cisne Negro - Suspense e horror com a beleza do balé

* Fabiana Longo

O diretor Darren Aronofsky é um dos nomes favoritos dos cinéfilos da atualidade. Apesar de ter feito poucos filmes, na sua estréia em Pi, já conquistou aqueles que gostam de um cinema alternativo. Por Cisne Negro se tratar de uma superprodução hollywoodiana houve quem pensasse que o diretor poderia não dar conta ou que poderia perder a meada do conflito, já que a característica principal de seus filmes é a exploração da psique humana e dos limites que podemos ultrapassar.
A primeira cena do filme já nos dá uma boa dica de como será todo o enredo. Uma linda cena de dança, misturada com a imaginação fértil de uma garota que pouco vive fora do universo do balé e é tratada como uma bailarina de louça pela mãe. No desenrolar do filme, percebemos que não é a imaginação da garota que causa efeito, mas sua loucura.
A ganhadora do Oscar Natalie Portman realmente mereceu o prêmio. A bailarina Nina Sayers, interpretada por ela, é completamente sem graça, como uma tábua. Natalie tem que se despir de qualquer sentimento para interpretar a garota no começo. Ao longo do filme, tem que demonstrar diversas emoções que a menina parecia nunca ter experimentado: inveja, ciúme, desejo, raiva, orgulho... tudo como se fosse a primeira vez.
Seu sonho é se tornar a primeira bailarina da companhia de Thomas Leroy (Vincent Cassel). O espetáculo a interpretar é O Lago dos Cisnes, de Tchaikovsky, que Leroy quer encenar uma montagem "crua e visceral". Nina é a bailarina ideal para interpretar a inocente e virginal Odette, o Cisne Branco, porém não tem nada para interpretar a gêmea má e sensual, Odile, o Cisne Negro. Leroy confia o papel a ela apostando que, até o momento do palco, a bailarina que era apenas doçura e técnica conseguiria libertar o lado negro que está dentro de cada um de nós.
Para forçar mais a barra, a antiga primeira bailarina, Beth, interpretada por Winona Ryder, não acredita que a menina tenha o que o papel precisa. O conflito fica claro na aparição de Mila Kunis, que interpreta a sedutora Lily, a bailarina perfeita para fazer o Cisne Negro. Mila dá um show, e só não rouba a cena de Natalie porque esta foi genial no papel, foi surpreendenteb que Mila não tenha sido indicada para o Oscar de atriz coadjuvante.
No desenrolar da trama, observamos Nina perder aos poucos a sanidade mental e a inocência, incorporando a gêmea má, como se estivesse trocando de pele . O psicológico se manifesta no físico e, mesmo com todos os esforços da mãe (Barbara Hershey) para que sua garotinha não se machuque, Nina passa a viver para que consiga se expressar como Odile. As cenas de sedução entre ela e Leroy são bem fortes, mas sem mau gosto. Os reflexos da insanidade da garota são muito bem retratados, e chegamos a ter dúvidas se algumas cenas eram reais ou foram alucinações. Para alguns (como eu), algumas dessas cenas passaram dos limites, mas a tradição de Aronofsky é mesmo de quebrar limites. 


*Jornalista

2 comentários:

  1. Muito boa sua análise do filme. É um filme que nos deixa bem reflexivos mesmo.

    Só não concordo com o "passar de limites" citado. Como você mesmo disse, o diretor é conhecido por quebrar limites, e se esses limites existem, devem ser quebrados realmente, mas com coerência. Isso que faz o cinema ser a arte que é.

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  2. Não acho que passou dos limites. Foi necessário o exagero para que o "grande público" entende-se que Nina sofria de problemas psiquiátricos. Existem duas referências claras, porém sutis de que algo está errado: o momento que ela interroga Lily sobre a noite passada de farra e ela diz que desconhece o que ela está dizendo pois não saiu com ela; e quando os desenhos da mãe de Nina tomam "vida". Fora essas não há menções claras de sua insanidade.

    Realmente Nina se tornou a Cisne Negro de corpo (a cena das penas nascendo me arrepiou, pois achei genial e um tanto quanto esdrúxulo) e alma (a mudança drástica de comportamento).

    O filme ainda traz à tona um universo ainda desconhecido que é o do ballet... a obsessão e busca incessante pela perfeição, competição, inveja, ciúmes entre as bailarinas.

    A atriz coadjuvante só não rouba a cena devido ao final espetacular... ela também merecia o oscar.

    Considero um dos melhores filme que já vi... está na minha lista de top 20... recomendo esse filme sem pestanejar para quem me pedir recomendações de um bom filme.

    Finalizando: Ótimo comentário, muito bem embasado e bem escrito. Concordo em quase todos aspectos, divergindo apenas na questão do exagero.

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