quarta-feira, 20 de abril de 2011

A Rede Social

*Marcus Oliveira

O filme da vez seria o Cheiro do Ralo (excelente nacional), mas, fui obrigado no final de semana pela segunda vez prestigiar o queridinho A Rede Social (The Social Network) então tomado pela febre que ainda não me pegou. Vamos a ele!
Para invadir de cara a expectativa e ansiedade de todos que queriam muito ver, o diretor David Fincher de cara nos vence na primeira cena por exaustão, antes mesmo dos créditos iniciais.
Mark Zuckerberg (Jesse Eisenberg) fala sem parar sobre os QIs dos gênio e as fraternidades mais exclusivas de Harvard numa velocidade que a sua namorada, à sua frente, não consegue acompanhar. A trilha sonora inicial já deixa clara a velocidade e todo contexto conturbado no qual o filme se desenrola, uma linguagem um tanto normal, em  se tratando de Facebook. Isso fica claro no instante seguinte, a saída do pub, os créditos do filme, quando toca fora de cena a primeira faixa composta por Trent Reznor e Atticus Ross especialmente para a trilha, "Hand Covers Bruise" (é a mesma música que fica ao fundo no site oficial). Nela, acordes simples ao piano vêm acompanhados de um zumbido que nos deixa, ao mesmo tempo, apreensivos e anestesiados.
Há um clima de urgência se instalando em A Rede Social, como se Mark Zuckerberg, depois do fora, corresse ao dormitório empurrado pelo destino, chamado a cumprir um papel crucial para o próprio futuro. O nerd não é um macho alfa, de qualquer forma, e como Mark tem à mão a Internet, tudo que consegue neste momento é criar posts rancorosos no velho Livejournal. Para se vingar das mulheres, Mark hackeia do seu quarto em Harvard algumas redes de faculdades e cria um site que ranqueia fotos de universitárias. É ai que o filme começa a criar forma e cor.
Com um pé na realidade aproveitamos o espaço para desmanchar o filme até aqui, pois, segundo o real Mark, nunca existiu tal namorada.
A Rede Social, então, funciona em dois níveis. O primeiro é o mundo como o narrador Zuckerberg vê uma história turva cheia de eventos desinteressantes. Cenas como a da regata, festas surreais de clãs, são apenas pratos cheios para o próprio Mark retirá-los do caminho e fundar “a grosso modo” sua Rede Social. O segundo nível, em oposição, é o mundo de fato - que em seu movimento de pura inércia não se deixa alterar pelos atos de Zuckerberg, ao contrário do que o nosso anti-herói, na sua mania de grandeza, gosta de pensar.
Sobre David (diretor), estabelece no filme a sensação de impotência que, podemos dizer, é comparável à de Zodíaco (filme do mesmo diretor David), um filme com personagens que também projetam no mundo relações irreais de causa e efeito, para preencher seus vazios. No suspense, o jornalista e o cartunista procuram pistas de um assassino que talvez não exista mais. Em A Rede Social, Zuckerberg, desde aquela primeira cena no bar com sua namorada, enxerga segundas intenções em tudo.
O Mark Zuckerberg da realidade tem todo o direito de reclamar do seu retrato ficcional, que afinal é simplificado para se encaixar num certo perfil, num certo arco. Mas o Zuckerberg do filme, embora pareça, não é uma vítima das circunstâncias ou do seu temperamento. É, sim, vítima de seu tempo.
O desenrolar do filme são business e a vida da própria rede social, como uma praga na plantação, em meio a “mil e uma” cenas de brigas judiciais, lá está Zuckerberg cravando seu espaço.
Um filme para aprender, analisar literalmente relações e sua vida profissional, e acima de tudo nos projetar para a internet dos próximos 4, 3, 2, 1 ano, não em expectativa com as novidades, mas sim, sobre valores, ética e privacidade deste futuro recente. A pergunta a ser feita é: será que ainda temos tempo de pensar isso tudo?

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