quinta-feira, 31 de maio de 2012

Cine Clube itinerante estará no Açude neste sábado



O projeto Cine Clube Foto do Clube Foto Filatélico possui uma vertente que possibilita ele levar as comunidades da região cinema gratuito. Desta vez Cine Clube Foto itinerante está com parceria com AMABA (Associação de Moradores e Amigos do Bairro Açude).

A exibição do filme "Avatar" será na Quadra de Esportes do Bairro Açude 2 na Rua 4, acontece no sábado dia 2 de Junho ás 20 horas.

A entrada é gratuita e todos os moradores estão convidados.

terça-feira, 29 de maio de 2012

Café com leite - Entre o amargo e o doce


Ciro Oiticica*



A obra de Daniel Ribeiro é um elogio ao contato humano. Ele narra a história de dois irmãos, a criança Lucas e o jovem Danilo, e do namorado do mais velho, Marcos, quando todos se vêem forçados a mudar de planos devido à morte dos pais dos irmãos. Os namorados acabam tendo que abdicar de uma viagem e da vida a dois em um novo apartamento para que Danilo possa cuidar do irmão. Dessa adaptação, surgem novos relacionamentos entres os três personagens, mostrando que o melhor é aceitar o correr da vida.

O título é um excelente ponto de partida para análise. Expressão bem brasileira (tanto que a tradução para o inglês Me, you and him é digna de “Sessão da tarde”), café-com-leite designa algo ou alguém cuja inexperiência justifica, num jogo, não ser alcançado pelo rigor das regras. Diego fala para seu irmão mais novo que ele não é mais café-com-leite após ele passar um nível do videogame, indicando que ele está crescendo.
Mais do que essa simples referência, o filme procura mostrar que todos podemos ser café-com-leite em relação às mudanças repentinas e à imprevisibilidade da vida. Temos o privilégio de não poder controlar nosso curso, de não sermos levados a sério, de não fazer da vida um livro de regras.

O significado de Café com leite vai além, sempre tipicamente brasileiro. É da expressiva mistura do título que se constrói a narrativa. Misturas não apenas entre os personagens, mas entre essas duas substâncias, o café e o leite, que permeiam a subjetividade de qualquer pessoa: a pureza do leite como memória doce de uma infância passada, quando um leve indício de choro bastava para receber o carinho materno, e o café como o amargo do envelhecer, a obrigação de ficar desperto e independente. Ao pedir que Danilo prepare seu leite, Lucas busca o afeto, a atenção. Quando Lucas pergunta ao seu irmão o porquê de chorar, a resposta é que “não é nada, é coisa de gente velha”; é a dor que escorre por sua bochecha, são lágrimas de café. A obra de Daniel Ribeiro demonstra de que forma a mistura permite neutralizar tanto o sofrimento quanto a inexperiência levando à maturidade pela dissolução da dor no contato humano.

Entre a infantilidade e o paternalismo, os personagens se alternam, superando tanto o medo de crescer e de aceitar as mudanças, quanto o de voltar a ser criança e pedir o carinho que precisam. A inversão das situações, quando Diego procura o irmão mais novo pra dormir em sua cama e este o consola, permitindo que ele durma de tênis, é uma amostrado poder lenitivo do carinho e da companhia. Pela mudança, os sentimentos se equilibram, encontram um ponto justo. Ao transformar, repousam, diria Heráclito. As próprias questões abordadas pelos personagens, das existenciais às habituais, da saudade ao videogame, acompanham a lógica (ou o caos) do fluxo.

Café com leite é a história de três vidas reunidas em torno de uma frase. “Quando as coisas mudam, se acostumar é difícil, mas, depois de um tempo, vai”. É o tempo de as coisas se ajustarem, encontrarem a mescla certa. O tempo em que o derrame de café ainda invade a alvura do leite, que a vida perturba nossa inocência de querer levá-la.

A abordagem do filme quanto à questão homossexual é brilhante, sem exagero. Um ditado afirma que a melhor forma de demolir um preconceito é pelo desprezo. Os temas são tratados com naturalidade. A espetacularização que se fez em torno de O segredo de Brokeback Mountain leva a pensar se o filme teria esse sucesso todo não fosse a temática gay. Da mesma forma, as novelas ao mostrar casais totalmente púdicos, sem espontaneidade, incomodam profundamente, parecem reforçar a intolerância. Café com leite em nenhum momento se aproveita da condição do casal ou o hiperboliza. O anseio hiper-real de defesa, a encenação afetada ou espetacular acaba por justificar e fortalecer o preconceito. Os opostos se legitimam. Eliminando um, é provável que o outro desapareça. Por isso interrompo minha defesa: não irei mais trair o ditado.

Foi um deleite assistir a um filme tão doce, doçura que a lembrança do batente, às seis da manhã do dia seguinte (regado com muito café pra ficar esperto), reenquadrou na realidade. Mas nem isso desanima, já que a felicidade nada mais é que a complacência da solidão (e vice-versa).

Texto originalmente publicado em CriticaCurta Cinema 

sexta-feira, 25 de maio de 2012

1ª Maratona do Cine Clube Foto


Dia 17 de maio ficou marcado como Dia Internacional contra a Homofobia. Foi quando, em 1990, a Organização Mundial de Saúde (OMS) retirou o homossexualismo da lista internacional de doenças.
Em respeito à classe, à liberdade de pensamento, o Clube Foto vai promover, no dia 30de maio, quarta feira, a partir das 21h, a 1ª Maratona do Cine Clube Foto. Uma noite adentro com exibição de vários filmes sobre o tema, com convidados para bate-papo e reflexão. Nos intervalos entre os filmes, haverá boa música para descontrair, além do bar temático. E para os maratonistas mais preparados, o prêmio é um delicioso café da manhã.  A comunidade gay e simpatizantes podem  ir curtir gratuitamente um papo bacana à luz da sétima arte.


A lista dos filmes, sujeita a alterações, é:





“Como Esquecer” – Direção: Malu de Martino. Com Ana Paula Arósio, Bianca Comparato, Natália Lage e Murilo Rosa - Sinopse: Júlia (Ana Paula Arósio) é professora de literatura inglesa e não se conforma de ter sido abandonada por sua companheira depois de 10 anos de relacionamento. Com o apoio do amigo Hugo (Murilo Rosa), um gay viúvo, com quem irá dividir um novo lar, ela tenta aprender que a vida segue em frente e os sentimentos perduram.

“Café com Leite” – Curta de Daniel Ribeiro, com Daniel Tavares, Diego Torraca e Eduardo Melo
Sinopse: Quando os planos para o futuro mudam, novos laços entre Danilo, Lucas e Marcos são criados. Entre video-games e copos de leite, dor e decepção, eles precisam aprender a viver juntos.

“Eu não quero voltar sozinho” - dirigido por Daniel Ribeiro, com  Guilherme Lobo, Fabio Audi e Tess Amorim -  Sinopse: o curta apresenta a inocência da descoberta do amor entre dois adolescentes. Leonardo (Guilherme Lobo), um menino cego que muda de vida totalmente com a chegada de Gabriel (Fabio Audi), um novo aluno em sua escola.

“Não Gosto Dos Meninos” - obra de André Matarazzo e Gustavo Ferri - Sinopse: O Curta Documentário,  é um projeto que reuniu durante 12 horas, 40 pessoas com histórias de vida completamente distintas e apenas um objetivo comum: se apresentar exatamente como são, resultados das suas escolhas, sem máscaras e felizes por isso.

“Do começo ao fim”- Direção e Roteiro: Aluizio Abranches, com Fábio Assunção, Júlia Lemmertz, Gabriel Kaufmann - Sinopse: A história de Francisco e Thomás e de sua família: Com uma narrativa particular o filme pretende contar a história de um amor incondicional como uma possibilidade, como um contraponto para um mundo cheio de violência, medo e intolerância.

terça-feira, 22 de maio de 2012

“Como Esquecer” - um filme sem preconceito

Em breve na nossa tela , "Como Esquecer" na Primeira Maratona do Cine Clube Foto, dia 29 de maio!!! Aguarde, e conheça mais do filme nessas linhas! 



O filme apresenta as diferentes maneiras que o ser humano consegue suportar (ou não) a rejeição/a perda de alguém do seu "par perfeito", pois um término amoroso nunca é fácil - para ambas as partes.



Júlia (Ana Paula Arósio) é a personagem principal na trama, não poderia ser diferente, pois logo após de uma separação (homo-afetiva) a mesma não consegue ficar mais sozinha sem pensar na ex-companheira - a ponto de não pensar em fazer besteiras com a própria vida social e pessoal.

A direção de Malu De Martino está de parabéns, pois ela conseguiu abordar o assunto da relação homo-afetiva com uma visão simplesmente adequada à história - sem precisar usar o homossexualismo como "algo de outro mundo".

Além do que os profissionais envolvidos em “Como Esquecer”, provaram saber trabalhar em equipe, já que o filme credita seis escritores e o texto se revela inteligente e bem desenvolvido.
É curioso acompanhar a luta e recusa simultâneas de Julia em querer virar a página, já que ela teme em apagar as melhores lembranças de sua vida, ao mesmo tempo em que está ciente de que esquecer o episódio é o primeiro passo para voltar a viver. Como reagir a esse dilema?

A complexidade da personagem encontrou na atriz Ana Paula Arósio sua intérprete ideal. Arósio encara um papel difícil e propõe um mergulho vertical na decadência emocional que a protagonista se encontra, surgindo muito convincente, ainda que os esforços da produção para deixá-la feia e acabada tenham sido frustrados, porque essa é uma tarefa quase impossível. O ator Murilo Rosa (Hugo), interpreta o estereótipo do amigo gay hedonista, mas também tem seus momentos, ao passo que Natália Lage (lisa) é só uma adição na casa para completar o trio de pessoas que choramingam pelos cantos a dor do amor efêmero.

É perceptível no filme a constante presença de filosofias de vida e um certo ar de puro intelectualismo (principalmente, por parte de Júlia), pois as personagens estão em uma busca constante/incessante pela felicidade...

Uma das partes mais emocionantes é quando  Júlia, Hugo e Lisa vão morar juntos num lugar bem afastado do caus urbano,  pois em consequência, acaba anexando todos os problemas de cada um em um único ambiente, imagine a complexidade desta relação a três.
Tem uma frase bem marcante que Júlia diz:
- O que seria o contrário do amor? Ódio? O que poderia ser?
Eis, uma pergunta bem intrigante e sagaz, pois é isso e muito mais que te espera no filme - Como Esquecer.