quarta-feira, 30 de março de 2011

Bravura Indômita

Hugo Leonardo Vespasiano de Souza*



O romance de Charles Portis foi lançado em 1968 e teve tanto êxito com sua trama surpreendentemente inovadora e envolvente que um ano após seu lançamento foi adaptado ao cinema. 
Bravura Indômita talvez seja a história mais inovadora; que rompeu com os paradigmas dos Westerns , onde existia a obrigatoriedade da existência de mocinhas indefesas, heróis, vilões, xerifes, pistoleiros renegados, assassinos de aluguel, conflitos com os nativos (vulgarmente chamado de índios), rompimento com as histórias de amor “açucaradas” e com o maniqueísmo (onde o Bem e o Mal eram claramente definidos e antagônicos). Isso não ocorre neste filme.
É o drama de Mattie Ross (Hailee Steinfeld), uma menina de 14 anos que vai à cidade de Fort Smith, Arkansas, para reaver o corpo de seu falecido pai.  Determinada, ela também procura por justiça e, quando não obtém ajuda pelas autoridades legais, resolve contratar o agente federal Rooster Cogburn (Jeff Bridges) para ajudá-la a vingar a morte de seu pai. LaBoeuf (Matt Damon) um Ranger que também está à procura do criminoso responsável pelo assassinato do patriarca da família Ross, logo se junta à dupla na saga pelas terras poeirentas dos Estados Unidos.
 A primeira versão do filme foi feita pelo cineasta Henry Hathaway, diretor de filmes de faroeste desde os anos 30, e não conseguiu explorar as potencialidades do romance. Em 1969, o policial federal Reuben "Rooster" Cogburn foi interpretado por John Wayne, uma sumidade do século XX no que diz respeito aos Westerns, o que lhe rendeu um Oscar.
Quem ficou encarregado de dar vida a esse personagem neste remake foi Jeff Bridges, que não deixou a desejar em nenhum aspecto. Para se ter uma idéia do tamanho da “entrega”, da dedicação do ator ao personagem, Jeff Bridges necessitou utilizar um elástico para prender a língua (o que deve ter sido bem doloroso) para conseguir falar de modo enrolado e quase incompreensível. Utilizando tapa-olho, barba grande, língua enrolada e aparentemente sempre embriagado, ele conseguiu dar vida ao federal Rooster Cogburn, todavia não há muitas similitudes com o personagem interpretado por John Wayne.
Outra surpresa foi a Hailee Steinfield que apesar de ter apenas 14 anos teve uma atuação digna das grandes estrelas de Hollywood. O mais surpreendente é quando se descobre que Bravura Indômita foi a sua estreia no cinema.
Em 2010, o roteiro foi elaborado por Joel e Ethan Coen, os mesmos roteiristas de “Onde os fracos não têm vez” e “Queime depois de ler”.  Eles utilizam com primazia a veia cômica através do humor negro e do sarcasmo dos personagens, o que o torna mais fidedigno ao romance.
Bravura Indômita vem para estreitar os laços existentes entre o século XXI e os filmes de Faroeste. O filme vem como forma de resgate de um gênero de filme que caiu no ostracismo das indústrias e estúdios cinematográficos e consequentemente do público.
Com diálogos bem elaborados, fotografia caprichada e em sintonia com a direção de arte, roteiro muito bem adaptado e atores em excelentes atuações, esse filme consegue trazer os filmes de faroeste para o século 21 sem abdicar das tecnologias, do que a indústria cinematográfica oferece de melhor. Um filme considerado anacrônico, pois conseguiu aproximar o passado de um gênero já esquecido e pouco valorizado do presente, sem que se perdesse qualidade ou a essência dos westerns.


*Historiador e amante da sétima arte

Um comentário:

  1. Confesso que não é o estilo de filme que me me agrada, mas fui supreendido por esse filme, me fez lembrar das histórias em quadrinhos do Tex que eu lia, dos clássicos que meu pai assistia e creio que hoje não seja fácil resgatar isso, mas esse filme foi muito bem dirigido e conduzido por boas trilhas sonoras, ótimas atuações e uma trama ímpar! Adorei.

    ResponderExcluir